Depois de muito tentar e não
conseguir, hoje vou escrever sobre a declaração unilateral do Estado Palestino
por Abu Mazen, no dia 29 de novembro de 2012. Não conseguia escrever antes
porque os níveis de frustração que sinto a respeito do o ocorrido, no último
dia 29, são astronômicos. Importante dizer que esta frustração não vem pela
atuação do lado palestino ( apesar do pífio, excludente e perigoso discurso de
Mahmud Abas na Assembleia da ONU), a fonte de minha frustração é o lado
israelense, melhor dizendo, a direita israelense, especificando ainda mais,
este governo de extrema direita do qual somos todos (os cidadãos deste aís)
reféns ultimamente.
O dia 29 de novembro (nacionalmente
famoso pela expressão Kaf tet be nobember) sempre foi uma fonte, um recurso de
legitimidade na memória simbólica do país. Em Kaf tet be november de 1947 foi
votada na mesma assembleia das Nações Unidas o plano de Partilha da Palestina
entre dois Estados, um judeu e um árabe. Com a presença de Chaim Herzog,
representando o Movimento Sionista, as Nações Unidas aprovam a existência de
dois estados na Palestina e viabilizam assim a criação do Estado de Israel.
Apesar de menor do que
planejavam, apesar de ter uma virtual inviabilidade existêncial, por estar
cortado pelo futuro Estado árabe, o Movimento Sionista (hegemonicamente
representado então pelo trabalhista MAPAI) apoia a divisão. Enquanto isso, o
Movimento Nacionalista Palestino e o mundo árabe, não. Sem entrar nos meandros
desta decisão política, que hoje conta
com extensa bibliografia a respeito, a decisão então tomada pelo sionismo,
ficou armazenada na memória coletiva judaica e israelense como uma fonte moral
de legitimidade e uma grande vitória
para o Movimento Nacional Judaico.
Aceitar a partilha era mais do
que aceitar a criação de um Estado Judeu, era aceitar a legitimidade da
existência do Outro. Um outro Estado, ao lado do Estado de Israel era a
incorporação da ideia de que esta terra continha múltiplas narrativas para
múltiplos agentes históricos. Não só a criação do estado Judeu consiste a
vitória do Sionismo, a determinação de que um estado árabe ao seu lado é
legítimo, é parte da vitória do Movimento sionista. 29 de Novembro surge
fortemente, em luzes de Neon piscando na narrativa sionista, na “Memória
Nacional” dizendo: “Quem não nos aceitou, quem não reconhece nossa narrativa
foi o Outro!!!”. Neste sentido, o Kaf tet be November tem, ou tinh,a uma
importância Histórica inigualável para o sionismo e para Israel.
Digo tinha porque perdemos,
perdemos o dia da partilha e perdemos a dimensão simbólica da narrativa de que
a Solução de dois Estados é uma premissa do Sionismo.
Abu Mazen, ganhou para si o 29 de
Novembro. Ele desfez, simbolicamente , a ideia de que “quem não os aceitou
fomos nós”, invertendo a equação para: “quem não nos aceita são eles.”
Este governo, ao agir como agiu
nas últimas semanas na ONU, não somente desperdiça uma oportunidade histórica
de receber reconhecimento, em fórum internacional, por parte dos Palestinos
moderados, enfraquecendo o Hamas e caminhando para a solução de dois Estados, mas
faz mais, este governo deslegitima toda a história do Movimento Nacional
Judaico, deslegitima a narrativa do sionismo e aponta para a ideia de que o
conflito é a única opção.
Pior: O governo Bibi- Liberman
avança na estrada da deslegitimação internacional e afirma que construirá
milhares de casas nos territórios em disputa (no caso a fronteira norte de
Jerusalém oriental, próximo a Ramallah). E afirma que isto é uma forma de
“punição”. Punição? Contra quem? Contra palestinos moderados que rifam a
legitimidade interna e vão pra ONU com uma proposta de dois Estado, reconhecendo
a partilha de 1947?
Não, na minha avaliação que está
de fato sendo punido é Israel, a sociedade israelense e o Movimento Sionista ,
que gradualmente vai perdendo seus símbolos em nome de um outro projeto de
governo autoritário, excludente, um “desvio genético” que adoece o Estado de
Israel.
Bom saber que não estou sozinho
nesta avaliação, e trago aqui 3 nomes cuja desconfiança de serem da “extrema
esquerda” não existe. São nomes historicamente ligados ao centro politico do
Sionismo. O primeiro deles é o ex- primeiro Ministro de israel (ex deputado
pelos partidos Likud e pelo kadima) Ehud Olbert, que classificou a oposição de Israel à criação do
Estado Palestino na ONU de “erro histórico”.
O segundo é o deputado Buji
Herzog (sobrinho-neto do líder sionista que acompanhou a votação da ONU em
1947, Haim Herog), ao analisar a decisão do governos de Israel, classifica a posição de Israel como: “Uma Tragédia Política”.
Por fim, cito o titulo da matéria
do famoso jornalista Ary Sahvit
(considerado um nome moderado de centro em Israel) no Haaretz, ele afirma categoricamente “ A direita põe em Rico Israel”.
Sem dúvida, simbolicamente, a direita no poder age de maneira que o
sionismo seja atacado e transformado em uma perspectiva ultrapassada. A
extrema direita israelense é assim,
hoje, anti –sionista e mais do que
ninguém ameaça Israel.
Bom agora sim, a frustração
passou, virou depressão ...
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